Thursday, February 15, 2007

Rumo alegórico

Num pequeno teatro de cadeiras opacas tingidas de vermelho, pequenas sombras de papel vão aparecendo, quais marionetas desprovidas de tempo e espaço.
Entre galerias infindáveis, ocultas pela imensidão do tempo memorial, procuras uma aberta constante, temendo a latitude permanente da chuva entrecruzada.
As paredes tornam-se móveis e silenciosas.
Os gatos são metamorfoseados em arestas limadas e gastas num ambulante circulo.
- Que fazemos?!
- Onde estamos?!
Dúvidas insondadas aparecem obsoletas, perante olhos decifravéis que parecem vagos e ilusórios numa imensidão de tempo e espaço.
As marionetas movem-se por entre areias movediças e escorregadiças.
Enclausuradas no brilho duma almofada, as serpentes sibilam como um aparelho neutro, rarefeito de emoções e sensações, devido ao poderoso alguidar, o arroz é distribuido com enormes quantidades de sal, os vidros estilhaçados permanecem em condutas de fios terrenos e em ebulição.
Argolas, circulos nefastos e cheios de repastos, pavoneiam-se junto ás portas que rangem e estremecem quais garrafas vitrais.
Verde opaco, azul cintilante, castanho amendoado...
Na imensidão do pequeno teatro, as formas animadas aparecem cortadas por palavras que vão-se desvanecendo com o tempo que faz ventos tempestuosos, tornarem-se em maresias que circulam perante o imaculado presente.
Na imensidão do palco, as aranhas procuram teias semelhantes á arquitectura tenaz.
As marionetas são movidas em espasmos de fumo e fogo.
A saliva é demasiado recorrente, para se tornar num dom decadente.
O teatro permanece iluminado por uma pequena luz que vai sendo apontado á face do actor, sendo filtrada pelos olhos que galanteiam personagens infindáveis e concretas.
No báltico procura-se um tom acinzentado semelhante a trupes rocambolescas e pasmadas pelo vento inconstante de cortinas que vão sendo entreabertas pelo tempo que corre e corre.
Infinitos papéis vão sendo calcorreados em matas fugazes e insinuantes, no historial do fumo elas continuam a mover-se como folhas que vão sendo tragadas pelo vento, fumo e maresia, transformam-se em constante ebulição de alfabetos crescentes e ascendentes, quais estrelas luminosas por entre um céu ilusório e nefasto, a coroa de espinhos sorri, como uma tempestade de areia sem bússola ou ampulheta, as medidas são exactas, as marionetas estão correctamente vestidas com trajes que permanecem ocultos num pequeno espaço de cinzeiros descaidos e interminavelmente suculentos. 
As noticias são uma constante dentro de uma ilusão aparente e constante.
Num relampejo de lucidez, numa aparencia dissimulada; as sombras vão sendo desvanecidas, substituidas por ilusões pouco concretas de um quadrado que se torna num triangulo. 
Tampas vão sendo acariciadas pelo tempo de prazeres ontológicos e dermatológicos, por entre tentativas fugazes; os fios vão-se desvanecendo e as marionetas tomam vida própria. 
O carvalho rupestre é transformado em esculturas intemporais, no entanto notam-se escamas a fervilhar; aglutinadas pela maresia suave num deslumbramento de dedos que se vão tornando demasiado vagos, quais pirilampos em tradição decrescente; tomas atitudes concretas e o teatro vai girando, com roupas coloridas e orvalho no tecto, diluindo papéis que vão sendo escrivinhados...

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